segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lúdio e Brito podem "atropelar" Mendes, afirma analista

http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=263&cid=127329

João Edisom, da UFMT, diz que Maluf tem projeto pessoal e "nanicos" só protestam

Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Cientista político João Edisom, da UFMT: mídia será fundamental na campanha em Cuiabá
ANA ADÉLIA JÁCOMO
DA REDAÇÃO
O cientista político João Edisom, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), traçou um perfil dos seis candidatos que disputam a Prefeitura de Cuiabá e previu que as eleições, neste ano, revelarão surpresas.

Ao MidiaNews, o analista disse que o vereador Lúdio Cabral (PT) e o ex-secretário Carlos Brito (PSD) podem ser as "surpresas" do pleito. Inclusive, com chances de "minar" a candidatura do empresário Mauro Mendes (PSB), apontado como favorito nas pesquisas de intenção de voto.

Edisom disse que a candidatura de Mendes é "frágil" e "sem sustentação política". E que ele não teria mais como subir nas pesquisas, a não ser que crie um fato novo, de impacto.

Sobre Guilherme Maluf (PSDB), o cientista disse que a candidatura do deputado estadual é um projeto próprio, pessoal.

Os "nanicos" Procurador Mauro (Psol) e Adolfo Grassi (PPL), segundo a sua avaliação, representam candidaturas de protesto, até ideológicas, mas sem viabilidade política.

Na entrevista, Edisom fez um retrospecto de vários cenários, opinou sobre a construção da imagem pública e também citou as estratégias de campanha bem e malsucedidas.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews - Alguns dos próprios candidatos reclamam que a campanha eleitoral em Cuiabá está "bem devagar" neste ano... A que o senhor atribui isso?

João Edisom - Existe muita proibição e alguns candidatos estão com medo. Mas, além disso, ninguém estava preparado para ser candidato a prefeito de Cuiabá. Na ultima hora, os partidos se organizaram, porque foi o Mauro Mendes quem trouxe a eleição. Ele tinha construído, durante esses dois anos, a imagem de que seria imbatível. Se o Mauro tivesse declarado, no início, que seria candidato, ficasse quieto com o grupo dele, sem armar confusão e tivesse um vice do PDT, o PMDB, que não fica sem poder, ia atrás dele; o DEM, também.
Todo mundo ia pedir benção. Hoje, ele seria praticamente candidato único. Só que ele começou a encrencar com o [senador] Pedro Taques; foi no PMDB, fez aquele “auê” no partido... Foi no PR, que acabou rachando em três partes. Os adversários pensaram: “Opa, tem eleição. Teremos motivos para bater no Mauro”. O problema é que o empresário criou uma situação e deixou claro que seria prefeito por um ano e pouco e, depois, faria o que bem entendesse da vida. Aí, surgiram o Lúdio Cabral de um lado, o Carlos Brito de outro, o Guilherme Maluf... Então, o Mauro é responsável pela eleição. Poderia ganhar sozinho, folgado. Seriam apenas ele e algumas candidaturas de sustentabilidade partidária. Sairia eleito disparado.

MidiaNews  - Mas, esse erro de estratégia é culpa só do candidato ou a equipe dele é ruim?

João Edisom - O que quebra o Mauro é a soberba dele. De achar que sabe mais que todo mundo. Não tem como assessorar o Mauro. Ele é autoassessor. Aconselha Deus. Então, fica difícil fazer alguma coisa por ele. Foi justamente isso que o levou a outras derrotas. Ele saiu do PR e errou. Se tivesse ficado, o candidato era ele, e não Silval, e ainda teria o apoio do Blairo Maggi. Ele é o maior especialista em perder eleição. Se ele perder essa, já poderá escrever o livrinho dele “Como perder eleições, depois de ganha”.
A campanha mais difícil foi com o Wilson Santos, porque ele tinha experiência, mas o Mauro surgiu como nome novo e com todo apoio do Governo. Só que o Wilson o “quebrou” nos debates. Ele estava começando, aprendendo o traquejo político e, ainda assim, foi para o segundo turno. O Wilson estava quebrado, não tinha condições e nem o próprio partido o apoiava. Foi para disputa em 2010 praticamente sozinho. Mas, o Mauro titubeou e entrou no pleito na metade, sempre nessa linha indecisa dele. E, quando entrou, ficou sem assessoramento e desenvolveu uma campanha onde ele próprio era o gerente. Organizou, mas só no final e não conseguiu ter fôlego para ir ao segundo turno com Silval. Só que, depois de todos esses aprendizados, ele pegou os erros da primeira e da segunda campanhas e jogou tudo nessa.

MidiaNews - O que ele deveria ter feito, então?

João Edisom -Devia ter definido, há muito tempo, se seria candidato. Não precisava dessa discussão sobre o pleito de 2014 para Governo. Era só dizer: “Sou candidato a prefeito, meu grupo é o Mato Grosso Muito Mais (PDT, PPS, PV e PSB)". Esse grupo é suficiente e ele estaria bem mais forte. Mas, ele quis vencer por W.O. e isso gerou o combustível que viabilizou duas candidaturas fortes, que são as do Lúdio e a do Brito.

MidiaNews - Mas, como mudar um quadro de pesquisa?

João Edisom - Essa campanha é extremamente midiática. O candidato precisa das mídias, ele não vai conseguir falar com todos os eleitores. Mas, vou dar um exemplo. Em 2006, o Wilson Santos chegou ao segundo turno "na marra" e conseguiu virar o jogo com o caso do velhinho da casa própria. O pai do Alexandre César [então adversário do tucano] tinha comprado uma casa e desapropriado um idoso. O Wilson usou esse fator e jogou na mídia. Ali foi um dos primeiros fatos midiáticos que reverteram as eleições em Cuiabá. Em 2008, quem começou disparado nas pesquisas foi o atual deputado estadual Walter Rabello, que perdeu porque não tinha projetos que pudessem sustentar sua campanha, e o Wilson divulgava todos os favores que fazia a alguém. Assim, foi crescendo nas pesquisas e derrubou o Walter. Hoje, entre os quatro principais candidatos, o Mauro e o Maluf representam a classe empresarial, que tem dinheiro e gera emprego. O Lúdio representa as instituições organizadas e o Brito é de bairro. A mídia será fundamental nessa campanha.

MidiaNews - Como o senhor avalia a posição do candidato Mauro Mendes nas pesquisas de opinião, que o apontam como favorito?

João Edisom - O Mauro é um candidato que está em campanha há quatro anos e esse percentual das pesquisas é o teto máximo dele. Uma campanha se faz com erros e acertos. Caso ele
Essa campanha é extremamente midiática. A mídia será fundamental nessa disputa.
crie algo de novo, poderá ampliar até esses números. Quem está no teto no início de uma campanha só tende a cair. Ele não tem mais como subir, se não criar algo novo.

MidiaNews - 
Mas, por que o senhor acredita que ele pode cair nas pesquisas?

João Edisom - Mauro Mendes já foi candidato a prefeito em 2008 e disputou os dois turnos. Perdeu. Foi candidato ao Governo do Estado em 2010. Perdeu. Agora, volta a ser candidato a prefeito. Ele está na terceira campanha e num espaço muito curto. Para se manter, ou crescer ainda mais, é preciso que haja fatos novos. Por exemplo: uma rejeição muito forte dos outros candidatos, o que é possível, se cometerem erros na campanha, ou se ele apresentar alguma coisa diferente do que fez até hoje, porque, na verdade, apesar de estar há quatro anos em campanha, não tem um projeto para Cuiabá.

MidiaNews - O candidato do PSB já apresentou um Plano de Governo. O senhor não o considera como um projeto por Cuiabá?

João Edisom - Mauro só fala em melhoria de gestão, não existe projeto concreto. Pode perguntar para qualquer pessoa: Se o Mauro for prefeito, o que ele vai apresentar? A resposta é sempre assim: ele sabe administrar. Mas não dizem o quê. Ele fala que o problema da Saúde é a gestão, mas será que nunca passou alguém pelo setor com competência? Como pode ser apenas gestão num local onde faltam leitos, remédios, estrutura...? Não digo que a gestão seja boa, mas tem algo mais.

Em relação à Segurança, essa história de criar secretaria, na verdade, é criação de cargos. A responsabilidade sobre a Segurança Pública é do Estado, e não do Município. Ele pode tratar de violência, mas não de Segurança. Qual o projeto que o Mauro tem para Educação? Nunca falou nada. A parte da infraestrutura? Não existe nada. O Mauro tem todo esse percentual de intenções de voto, mas é uma candidatura frágil porque não tem sustentabilidade. Ele, mais do que ninguém, deveria ter, porque há quatro anos é candidato. Não vejo nele um candidato forte.

O Mauro é o maior especialista em perder eleição. Se ele perder essa, já poderá escrever o livro “Como perder eleições, depois de ganhas”. 
MidiaNews - Os outros candidatos apresentaram bons projetos? Qual a candidatura mais viável?

João Edisom - Das quatro candidaturas viáveis, três podem despontar. Não podemos dizer que Mauro, Maluf, Brito e Lúdio não irão buscar algo melhor para a cidade. Em Cuiabá, há esperança. Mas, como se colocou cada candidatura? Nenhum deles apresentou projeto de Governo.

MidiaNews - Como avalia o comportamento e a candidatura de Lúdio Cabral?

João Edisom - O Lúdio é dúbio. Ele gerou um protesto na Câmara de Vereadores em relação à CAB, mas esse tema será uma contradição enorme na campanha dele, já que defende o retorno da Sanecap e não tem como retornar. Há documentos, valores que já foram pagos. Não sei como ele vai lidar com essa contradição, mas a ideia dele de social é melhor do que a do [prefeito] Galindo. Seria uma administração voltada para o social e ele ainda tem os governos Estadual e Federal. Então, poderia trazer recursos mais fartos para Cuiabá. Só que é uma candidatura nova e que também não tem um projeto por Cuiabá. Quando se fala em Lúdio, vem a mente a questão da extinta Sanecap. Só isso.

MidiaNews - O senhor acredita que o Maluf conseguirá se desvencilhar sua imagem do ex-prefeito Wilson Santos? Ele pretende trazer lideranças nacionais para alavancar seu projeto.

João Edisom - O Maluf carrega dois pesos enormes: o Wilson Santos e o Chico Galindo. Ele é o único nascido em Cuiabá, mas isso não elege mais ninguém. A eleição municipal não é um “briga de família”. Aécio Neves e outros não significam transferências de votos. Não tem tanto peso. Não adianta querer reinventar o Maluf, ele é o mesmo que anda com o Carlos Avalone, com a Thelma de Oliveira, que se comunica com Wilson Santos, que não está muito distante do prefeito... E ele não pode mesmo fugir disso. A maneira de ele ganhar mais votos é justamente colocar todo esse pessoal nas costas e dizer: “Olha, faço parte disso, mas posso fazer melhor”. Assumir a responsabilidade. Ele diz que não vai esconder o Wilson, mas não assume e fica em cima do muro. Além disso, o discurso dele não tem tanta força, por isso é o único que o Mauro pode combater no discurso. Maluf não chega ao segundo turno.

MidiaNews - O senhor acha o discurso de Mauro Mendes muito fraco? 
Nos debates, Lúdio Cabral e Carlos Britos têm argumentos para convencer sobre as propostas para Cuiabá.


João Edisom - Se for pegar os debates e jogar para o campo da retórica, do conhecimento de Cuiabá, da força do discurso, da imagem, o Mauro perde tanto para o Lúdio, quanto para o Carlos Brito. O Mauro vai perder votos após os debates porque ele não é hábil. Pela primeira vez, ele terá dois combatentes. Na primeira vez, em 2008, ele lutou contra o Wilson, que era candidato à reeleição e estava cheio de peso; e, quando foi para disputa pelo Governo, perdeu para o Silval.

MidiaNews - O candidato Carlos Brito pode surpreender nas urnas?

João Edisom - O Brito tem uma vantagem: ele é o único que tem o percurso do bairro para o centro. O vice dele [pastor evangélico Paulo Roberto] também pode agregar votos de várias igrejas. Cuiabá tem 27% da população evangélica; obviamente, nem todos vão votar neles, mas é um número expressivo. Agora, precisa ver como ele vai trabalhar a campanha dele. De todos que estão ai, o Brito é o único que tem conhecimento de Cuiabá, dos bairros. E ele apresenta uma coisa interessante que ninguém apresentou, que é a criação da Secretarias de Bairros, que vai integrar a questão da Segurança Pública. Teve sorte de ter saído da Secopa como vítima. Mas, no geral, se apresenta bem e pode surpreender, sim.

MidiaNews - Adolfo Grassi e Procurador Mauro podem crescer nas pesquisas?

João Edisom -Não considero viáveis. São candidaturas de protesto, até ideológicas, mas sem viabilidade política.



Depois de todos esses aprendizados, o Mauro pegou os erros da primeira e da segunda campanhas e jogou tudo nessa.

MidiaNews - O senhor acha que o fato de Blairo Maggi e Pedro Taques estarem unidos em torno de Mauro Mendes pode soar mal perante os eleitores?

João Edisom - Depende de como os adversários vão explorar isso. O problema é errar o tom. Vou citar um exemplo: o Mensalão do Lula. Como o PSDB errou o tom, o Lula virou vítima do mensalão e 
Roberto França seria um diferencial na disputa. Ele é muito maior do que o deputado Guilherme Maluf.
ganhou a eleição. Ao invés de responsabilizarem o Lula, os tucanos vitimizaram o ex-presidente. Ao invés de fazer a denúncia, deixar a população digerir e as investigações andarem, começaram a xingá-lo antes da hora e acabaram blindando o Lula.

MidiaNews - O senhor acredita que, se o ex-prefeito Roberto França tivesse entrado na disputa seria melhor para o DEM, ao invés de lançarem o João Celestino como vice do Maluf?

João Edisom - Com certeza. França é maior que o Maluf. Não ganharia, mas faria um diferencial no contexto. O DEM errou; se entrassem com a Iracy França como vice do Brito, ou até mesmo com o Mauro, eles teriam chances. A Iracy também não poderia sair como vice do Maluf porque também é maior do que ele. Ela na cabeça traria mais votos, pois tem menos ligação com o Wilson Santos e com o Galindo. Mas, o Maluf não quis abrir mão dessa candidatura porque, na verdade, é um projeto próprio.

MidiaNews - A ex-senadora Serys já afirmou ao MidiaNews que não irá subir no palanque do Lúdio. O senhor acha que isso vai fazer alguma diferença na campanha do vereador?

João Edisom - A Serys não tem mais espaço no PT. Ela seria uma grande candidata à Prefeitura de Cuiabá se, em 2010, quando se desentendeu com o então deputado federal Carlos Abicalil, tivesse mudado de partido. Ela tem densidade eleitoral e tem identificação suficiente com a população. Ela teria saído como vítima e viria para Cuiabá como uma concorrente fortíssima. Só que ela tem uma sensação de posse com o PT, de se achar dona do partido e, enquanto ela estiver com esse sentimento, vai definhar e pode acabar politicamente, sendo que para ela ainda há chances.

A política tem a arte de ressuscitar os mortos. As pessoas gostam da Serys, mas ela não tem espaço no PT. Se ela tivesse se filiado ao PMDB, saído como candidata... Já pensou ela e Roberto França no mesmo palanque? Que impacto! Só que ela tem que sair dessa amargura. Ela fez o que não poderia ter feito: passou a ser vítima dela mesma. Devia ter deixado a sociedade ver que ela estava sendo vítima. Na própria campanha, se ela tivesse ficado calada, o PT ia expulsá-la e ela sendo expulsa do PT viria como uma avalanche. Podia ter ido para o PSOL. Já pensou ela compondo como o Procurador Mauro? Seria uma campanha ótima.

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